Entre o ruído de carros e pessoas conversando, um som
peculiar chama a atenção de quem caminha pela primeira vez por
Akihabara, distrito de Tóquio, no Japão. É o grasnar de corvos, que
costumam pousar em postes e outros poleiros improvisados das ruas da
região. A trilha é apropriada para o local, conhecido por ser o ponto de
encontro de dois elementos básicos da cultura moderna japonesa -
eletrônicos e mangás.
Os corvos - com sua plumagem negra e ar misterioso - são a inspiração, por exemplo, do nome do mangá Crows, de Hiroshi Takahashi, que conta a história de gangues juvenis em Tóquio, narrativas que venderam mais de 30 milhões de cópias, algumas das quais em Akihabara.
Fora dos mangás e videogames, no entanto, nas ruas de Akiba, como é apelidado o local, o clima é mais tranquilo.
Por Akihabara, é possível encontrar lançamentos recentes da indústria de eletrônicos, como o iPad mini, o tablet Windows Surface ou o celular Galaxy S III
em lojas atrolhadas de gadgets e vitrines com pouco traquejo. Todos os
preços aparecem em Ienes japoneses, e raramente se aceita dólar - em
alguns casos, nem cartão. Na verdade, até o inglês é escasso, tanto que
vira anúncio de vitrine em pontos de venda: "We do speak english here".
O diferencial é bem-vindo para estrangeiros que querem comprar por lá. Os preços chegam a variar em 80% em alguns casos. A pegadinha? "Esse (mais barato) é pela operadora", responde um dos atendentes.
Nas ruas, se houve falar de eletrônicos vendidos sem garantia e, às vezes, sem informação alguma sobre a procedência. Quanto menos dessas coisas tem, menos custa. Notebooks por US$ 200, celulares inteligentes por US$ 50 e muitas outras ofertas estão à disposição de quem não tem pudores em comprar mercadorias sem origem conhecida.
O 'mercado negro' faz parte das origens do distrito. Depois da segunda guerra mundial, o distrito começou a comercializar componentes eletrônicos descartados pelo exército Americano. Na década de 1960, as TVs chegaram, não só a Akiba, como também a Nipponbashi, outro distrito de venda de eletrônicos, situado na cidade Osaka.
Nas décadas seguintes, Akihabara se ajustou aos ciclos da eletrônica de consumo: PCs, videogames, softwares, até os tablets atuais, nas ruas e no comércio legal.
Os compradores mais cautelosos encontram pouso nos shoppings e lojas de departamentos, com desconto de 10% a 20% e muita bugiganga. A gigante rede Yodobashi, por exemplo, se impõe com seis andares com a cara de Akiba. No primeiro andar, computadores e smartphones, no segundo, acessórios para computadores e smartphones. Um lance de escadas acima, câmeras e filmadoras. A escalada segue com a venda de televisores, DVDs e Blu-Rays. No quinto andar, eletrodomésticos - porque um nerd precisa do básico, certo? - até chegar no andar de games e artigos de coleção da cultura mangá.
O prédio de Yodobashi fica num dos pontos privilegiados do bairro, próximo de uma das duas linhas de metrô que chegam a Akihabara.
Quem busca outros tipos de "hardware", nas lojas das ruas de Akihabara, abertas a partir das 8h, encontra furadeiras e outras utilidades domésticas, e até réplicas de armas de fogo.
A marca principal de Akiba, no entanto, é o jeito nerd, ou geek para alguns, de ser. Bonecos de Steve Jobs vendidos ao lado de iPhones 5, meninas fazendo cosplay, garotos andando de bicicleta com camisetas de super-heróis, muitos bonecos inspirados em personagens dos mangás e animes; tudo isso pode ser visto em Akihabara.
Para quem quer experimentar mais da cultura japonesa, uma atração típica do local são os meido cafes, onde o cliente paga para tomar café e conversar com jovens japonesas uniformizadas como empregadas à moda antiga. Nas ruas, moças com saias curtas, tiaras com orelhas de gato e uma simpatia servil distribuem os anúncios dos cafés. Dentro das lojas, pelas regras, não se pode tocar nem falar de assuntos pessoais.
Em certos estabelecimentos, as fotos também são proibidas. "Elas dizem: 'como posso servi-lo, mestre, vou lhe trazer café com o maior prazer, mestre'. É um tipo de tratamento com reverência aos homens", disse um cliente na saída de um dos cafés. Apesar do apelo masculino, mulheres e famílias também costumam frequentar esses locais, onde toda a interação não passa de conversa. "Você até pode tentar flertar com elas, mas não é bem visto", recomenda o site de um dos cafés.
Os preços do café ficam em torno de US$ 10, podendo custar até US$ 40, incluindo o tratamento VIP. "Foi caro, mas valeu pela experiência de Akihabara", finalizou o cliente .
Em 8 de junho de 2008, uma parte trágica da história do distrito foi escrita. Tomohiro Kato, um homem de 25 anos, jogou um veículo em um grupo de pessoas e depois esfaqueou outras 12, deixando um total de sete mortos.
O incidente, ocorrido em uma rua fechada apenas para o tráfego de pedestres, mobilizou 17 ambulâncias para o atendimento das vítimas. Kato foi preso e sentenciado à morte. A área de pedestres foi reaberta dois anos e meio depois das mortes. E hoje, otakus, turistas, meis (as moças dos cafés) e até os corvos andam em segurança pelas ruas de Akihabara.
Os corvos - com sua plumagem negra e ar misterioso - são a inspiração, por exemplo, do nome do mangá Crows, de Hiroshi Takahashi, que conta a história de gangues juvenis em Tóquio, narrativas que venderam mais de 30 milhões de cópias, algumas das quais em Akihabara.
Fora dos mangás e videogames, no entanto, nas ruas de Akiba, como é apelidado o local, o clima é mais tranquilo.
Disney dos eletrônicos
O diferencial é bem-vindo para estrangeiros que querem comprar por lá. Os preços chegam a variar em 80% em alguns casos. A pegadinha? "Esse (mais barato) é pela operadora", responde um dos atendentes.
Nas ruas, se houve falar de eletrônicos vendidos sem garantia e, às vezes, sem informação alguma sobre a procedência. Quanto menos dessas coisas tem, menos custa. Notebooks por US$ 200, celulares inteligentes por US$ 50 e muitas outras ofertas estão à disposição de quem não tem pudores em comprar mercadorias sem origem conhecida.
O 'mercado negro' faz parte das origens do distrito. Depois da segunda guerra mundial, o distrito começou a comercializar componentes eletrônicos descartados pelo exército Americano. Na década de 1960, as TVs chegaram, não só a Akiba, como também a Nipponbashi, outro distrito de venda de eletrônicos, situado na cidade Osaka.
Nas décadas seguintes, Akihabara se ajustou aos ciclos da eletrônica de consumo: PCs, videogames, softwares, até os tablets atuais, nas ruas e no comércio legal.
Os compradores mais cautelosos encontram pouso nos shoppings e lojas de departamentos, com desconto de 10% a 20% e muita bugiganga. A gigante rede Yodobashi, por exemplo, se impõe com seis andares com a cara de Akiba. No primeiro andar, computadores e smartphones, no segundo, acessórios para computadores e smartphones. Um lance de escadas acima, câmeras e filmadoras. A escalada segue com a venda de televisores, DVDs e Blu-Rays. No quinto andar, eletrodomésticos - porque um nerd precisa do básico, certo? - até chegar no andar de games e artigos de coleção da cultura mangá.
O prédio de Yodobashi fica num dos pontos privilegiados do bairro, próximo de uma das duas linhas de metrô que chegam a Akihabara.
Quem busca outros tipos de "hardware", nas lojas das ruas de Akihabara, abertas a partir das 8h, encontra furadeiras e outras utilidades domésticas, e até réplicas de armas de fogo.
A marca principal de Akiba, no entanto, é o jeito nerd, ou geek para alguns, de ser. Bonecos de Steve Jobs vendidos ao lado de iPhones 5, meninas fazendo cosplay, garotos andando de bicicleta com camisetas de super-heróis, muitos bonecos inspirados em personagens dos mangás e animes; tudo isso pode ser visto em Akihabara.
Sim, mestre...
Para quem quer experimentar mais da cultura japonesa, uma atração típica do local são os meido cafes, onde o cliente paga para tomar café e conversar com jovens japonesas uniformizadas como empregadas à moda antiga. Nas ruas, moças com saias curtas, tiaras com orelhas de gato e uma simpatia servil distribuem os anúncios dos cafés. Dentro das lojas, pelas regras, não se pode tocar nem falar de assuntos pessoais.
Em certos estabelecimentos, as fotos também são proibidas. "Elas dizem: 'como posso servi-lo, mestre, vou lhe trazer café com o maior prazer, mestre'. É um tipo de tratamento com reverência aos homens", disse um cliente na saída de um dos cafés. Apesar do apelo masculino, mulheres e famílias também costumam frequentar esses locais, onde toda a interação não passa de conversa. "Você até pode tentar flertar com elas, mas não é bem visto", recomenda o site de um dos cafés.
Os preços do café ficam em torno de US$ 10, podendo custar até US$ 40, incluindo o tratamento VIP. "Foi caro, mas valeu pela experiência de Akihabara", finalizou o cliente .
Massacre de Akihabara
Em 8 de junho de 2008, uma parte trágica da história do distrito foi escrita. Tomohiro Kato, um homem de 25 anos, jogou um veículo em um grupo de pessoas e depois esfaqueou outras 12, deixando um total de sete mortos.
O incidente, ocorrido em uma rua fechada apenas para o tráfego de pedestres, mobilizou 17 ambulâncias para o atendimento das vítimas. Kato foi preso e sentenciado à morte. A área de pedestres foi reaberta dois anos e meio depois das mortes. E hoje, otakus, turistas, meis (as moças dos cafés) e até os corvos andam em segurança pelas ruas de Akihabara.
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