A Rússia irá enviar em 2020 para o asteróide Apophis um “trator gravitacional” para testar a tecnologia de desvio das órbitas de objetos espaciais que possam ameaçar a Terra.
Em 2023, partirá um aparelho para pousar em Ganímedes, satélite de Júpiter, e procurar indícios de vida.
Estes dois projetos figuram na apresentação doTSNIIMASH (Instituto de pesquisa central de construção de máquinas), uma estrutura filial da Roskosmos, no Congresso Internacional Aeroespacial que encerra os seus trabalhos na sexta-feira em Moscou. A apresentação foi organizada no âmbito do programa Estratégia para o desenvolvimento da atividade espacial até 2030 entregue pela Roskosmos ao governo nesta primavera.
Depois da descoberta do Apophis, há 8 anos, os cálculos demonstraram que ele pode colidir com a Terra em 2029 com uma probabilidade de 1:37. Depois se verificou que não haveria catástrofe. Mas se o asteróide entrar num “funil” gravitacional com apenas centenas metros de largura, então irá colidir na aproximação seguinte em 2036. A probabilidade de acertar é de 4 para um milhão. Quando o Apophis se dirigir para o “funil”, ao “trator gravitacional” bastará desviá-lo ligeiramente para reduzir a hipótese de colisão para zero. A ideia de um “trator” desses é conhecida, diz-nos o membro-correspondente da Academia Russa de Cosmonáutica Yuri Karash.
“Será um corpo que irá girar à volta do asteróide e interferir com o seu movimento. Se o asteróide for descoberto muito antes de ele se aproximar da Terra a uma distância perigosa, enviando-lhe o “trator” poder-se-á gradualmente desviá-lo da trajetória perigosa.”
Para o astrofísico do Instituto Astronómico Sternberg da Universidade estatal de Moscou Vladimir Surdin as preocupações causadas pelo Apophis fazem sentido.
“Os cálculos demonstram o lado que a Terra terá virada para o asteróide em 2036, quando ele passar junto a nós. Infelizmente, será o lado da Rússia, ou melhor, da Eurásia. O local provável da colisão passa pelo território russo. Sem cálculos precisos, ainda não se pode dizer se ele passará ao lado.”
Ao contrário do envio do “trator”, o voo do aparelho russo para o sistema de Júpiter já estava planejado há muito. Se tratava do seu satélite Europa que tem a fervilhar debaixo da superfície um caldo de minerais em água que, teoricamente, podia sustentar algumas formas de vida. O perito em cosmonáutica Igor Lisov explica a razão da escolha final de Ganímedes.
“Se verificou que não existe equipamento eletrônico resistente à radiação que pudesse trabalhar na superfício do Europa. Tivemos de recuar um pouco de Júpiter para um satélite mais distante, mas igualmente interessante, e pensar em como estudá-lo.”
De acordo com Igor Lisov, a apresentação do TSNIIMASH é um reflexo da busca por algum objetivo global para depois de 2020, quando a EEI fôr retirada de órbita e afundada no oceano. Talvez faça realmente sentido começarmos a ocupar-nos dos asteróides dentro das intenções dos americanos que querem pousar num deles até 2025, diz o perito. Também não é obrigatório que a apresentação do Instituto e os planos da Roskosmos sejam a mesma coisa.
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